domingo, 13 de abril de 2014

Lunar


“She was like the moon – part of her was always hidden away.”

Passou pela minha frente, virou a esquina, andei o quarteirão e mais uma vez ela estava lá. Andava tão desprendida do mundo que parecia não ser deste planeta. Com os olhos para o céu, buscava algo familiar. Eu só a observava de longe, analisando cada movimento de cabeça para cima...para baixo. Eu já a conhecia, não me lembro de onde, mas conhecia. Nem se eu quisesse poderia esquecê-la, devido à sua beleza e harmonia. Ela balançava os braços e eles estavam leves, levitando entre as correntes de ar que dançavam conforme ela se mexia. Andei mais rápido e fiquei do seu lado. Estava sublime. Percebi que no seu rosto havia um sorriso esboçado, e desse modo, também sorri. Ela fechou os olhos e atravessou a rua, entre os carros. Eu estava apreensiva atrás, rápida, e depois fiquei parada no meio da avenida, desorientada, ofegante, me esquivando, no susto, dos carros que corriam para o seu destino. Ela com muita leveza, chegou do outro lado, olhou para mim e sorriu mais uma vez. Neste momento percebi que seus olhos pareciam duas luas negras. Depois ela fechou os olhos e senti que estava tentando me dizer algo e então fechei os meus também. Respirei fundo e senti a brisa circulando pelo meu corpo, ocupando todo o espaço ao meu redor. Como uma valsa, me desviava dos carros, flutuando no asfalto.

Abri os olhos e o mar estava na minha frente, meus pés descalços parados na areia, enquanto ela  novamente estava lá. Ela entrou no mar e o seu vestido que antes era branco, tornou-se azul, se camuflando com a água. O tempo estava nublado e uma chuva fina caía. Do mar ela me olhava e seus olhos, suas luas, me atravessavam e tomavam conta de mim. Ouvi um sussurro no meu ouvido “Seja a barreira entre a vida e a morte”, e novamente de olhos fechados, caminhei até ela. A água estava fria e a chuva caía sobre meus ombros, mas não me importava, eu só queria olhá-la de perto e sentir a sua presença. O frio já nem me incomodava mais, minha mente estava vazia e o azul me preencheu. A maré subia. Nós mergulhávamos e dançávamos debaixo d’água. Deixávamos a chuva tocar nossos rostos. Cada gota que caía e entrava em mim me fazia sentir viva. Fechei os olhos e flutuei mexendo os braços suavemente. Senti-me como uma gangorra, que balançava para dentro e para fora de mim. Ela só me olhava, sorrindo.

Acordei deitada na areia, com os raios de sol da manhã abrindo meus olhos vagarosamente e o vento cobrindo meus cabelos. Sentei-me, olhei para o mar e fiquei pensando em tudo que havia acontecido anteriormente. Ela não estava mais lá, mas eu podia senti-la. Na minha mão tinha um bilhete embrulhado, escrito:

"É preciso ter asas quando se ama o abismo".

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