domingo, 26 de janeiro de 2014

Água

Estava deitada na grama em frente ao lago, quando vi um peixe boiar de barriga para cima. Estava morto. Fiquei o observando, perplexa com a beleza da cena. Ironicamente, o peixe morrera afogado. Cada gotícula o matou. Como veneno, a água entrou em cada barbatana e o definhou lentamente. Para onde ele iria fugir? Estava preso na sua própria vida. Fugir também seria atestar sua morte, visto que o ar lhe mataria de qualquer jeito. Pobre peixe. Viveu numa armadilha o tempo todo. Armadilha que a natureza mesma criou. Nadava para a sua liberdade mas se encontrava preso no azul. Ele teve sim seus momentos de felicidade, mas se sufocava com tanta vida. Tentava escapar e colocava a cabeça para fora d'água, mas o ar rapidamente absorvia tudo aquilo que ele tinha de bom. Ele viveu sozinho, dentro de um coral, não conversava com os outros habitantes marinhos, só saía para caçar, e mesmo assim com a esperança de ser caçado primeiro. Até que um dia ele se cansou, para falar a verdade, ele nunca pediu para nascer, viver sufocado já não dava mais. Então ele parou e deixou que a natureza agisse. O lago atendeu seu pedido, o elevando para o céu. Na água ele nasceu, na água ele viveu e na água ele ficará, para sempre.

Um comentário:

  1. ai ana você consegue deixar tudo que é simples mais bonito com o seu toque de tristeza e melancolia :~

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